
Quando ganhou os campos em uma de suas diárias caminhadas em nome de afinar a percepção artística, Vicent Van Gogh não levava em suas mãos a paleta, as tintas, enfim, o material da pintura de que fizera seu ofício. Nas mãos, naquele terrível dia, o gênio pós- impressionista tinha uma pistola, justamente aquele que dispararia contra o próprio peito poucos minutos depois. É improvável que naquele acesso de loucura Van Gogh desejasse a morte imediata. Desejava flertá-la, algo como desafiar a loucura que o dominava desde sempre. Por isso o disparo não foi mortal, pois ainda que alquebrado pelo ferimento, o artista voltou aos seus aposentos e viveu mais dois dias, falecedo a 29 de julho.
A auto-mutilação não representa novidade na vida do pintor. Anos antes, após desentender-se seriamente com o companheiro de Arles, o igualmente ilustre e genial Paul Gauguin, Van Gogh, com a mesma navalhada que tentou ferir o companheiro, decepou parte da orelha direita. No auto- retrato em que ilustra o ferimento, Van Gogh parece expressar satisfação.
Na verdade, Van Gogh, em paralelo com sua genialidade, era portador de grave doença mental, provavelmente a hoje conhecida com transtorno bipolar que, em suas manifestações mais agudas, torna o infeliz dela acometido alguém absolutamente intratável, obtuso e por vezes violento. Por isso o notável holandês transformou sua vida em uma sucessão de fracassos, desde os prosaicos malogros na arte do amor, passando pelas frustradas tentativas de trabalhar, até como ministro religioso, chegando à própria incapacidade de manter-se novo antes os tormentos que o perseguiam no mundo de trevas e fantasmas que habitavam seu interior.Sem tratamento disponível e conhecido, não restava ao artista senão submeter-se àquilo de que se dispunha: o recomendado descanso em bucólica estação, prescrito pelo médico Paul Gachet, ele também um melancólico, como o artista tratou de retratar nos últimos anos de vida.
Van Gogh conseguiu vender uma única obra ao longo da vida, e mesmo assim muito perto do destinado ato que pôs fim ao seu calvário existencial, enquanto que, passados 100 anos de sua morte, seus girassóis atingiram a inacreditável cifra de US$ 80 milhões no leilão em que foram arrematados. Inteiramente louco, incapaz sequer de fazer frente ao próprio sustento, vivendo à custa da mesada que lhe alcançava o irmão Theo, Van Gogh mergulhou no tenebroso oceano que preenchia seu espírito, e dele retirou a força para retratar as cercanias exteriores, ora espelhando a melancolia de que era portador, ora retratando a esmaecida esperança de que o sol haveria de iluminá-lo e, tal como aos girassóis, poderia indicar-lhe o caminho
O desfecho trágico da atormentada existência de Van Gogh sufocou, mas por pouco tempo, o reconhecimento do gênio, cujas obras valem hoje uma centena de milhões de dólares, mas ainda intriga a quem gostaria de entender melhor a natureza humana e sua diáfana fronteira entre a genialidade e a loucura.
Fonte: Caderno e Colunistas. Jul/08(idealdicas@idealdicas.com)
A auto-mutilação não representa novidade na vida do pintor. Anos antes, após desentender-se seriamente com o companheiro de Arles, o igualmente ilustre e genial Paul Gauguin, Van Gogh, com a mesma navalhada que tentou ferir o companheiro, decepou parte da orelha direita. No auto- retrato em que ilustra o ferimento, Van Gogh parece expressar satisfação.
Na verdade, Van Gogh, em paralelo com sua genialidade, era portador de grave doença mental, provavelmente a hoje conhecida com transtorno bipolar que, em suas manifestações mais agudas, torna o infeliz dela acometido alguém absolutamente intratável, obtuso e por vezes violento. Por isso o notável holandês transformou sua vida em uma sucessão de fracassos, desde os prosaicos malogros na arte do amor, passando pelas frustradas tentativas de trabalhar, até como ministro religioso, chegando à própria incapacidade de manter-se novo antes os tormentos que o perseguiam no mundo de trevas e fantasmas que habitavam seu interior.Sem tratamento disponível e conhecido, não restava ao artista senão submeter-se àquilo de que se dispunha: o recomendado descanso em bucólica estação, prescrito pelo médico Paul Gachet, ele também um melancólico, como o artista tratou de retratar nos últimos anos de vida.
Van Gogh conseguiu vender uma única obra ao longo da vida, e mesmo assim muito perto do destinado ato que pôs fim ao seu calvário existencial, enquanto que, passados 100 anos de sua morte, seus girassóis atingiram a inacreditável cifra de US$ 80 milhões no leilão em que foram arrematados. Inteiramente louco, incapaz sequer de fazer frente ao próprio sustento, vivendo à custa da mesada que lhe alcançava o irmão Theo, Van Gogh mergulhou no tenebroso oceano que preenchia seu espírito, e dele retirou a força para retratar as cercanias exteriores, ora espelhando a melancolia de que era portador, ora retratando a esmaecida esperança de que o sol haveria de iluminá-lo e, tal como aos girassóis, poderia indicar-lhe o caminho
O desfecho trágico da atormentada existência de Van Gogh sufocou, mas por pouco tempo, o reconhecimento do gênio, cujas obras valem hoje uma centena de milhões de dólares, mas ainda intriga a quem gostaria de entender melhor a natureza humana e sua diáfana fronteira entre a genialidade e a loucura.
Fonte: Caderno e Colunistas. Jul/08(idealdicas@idealdicas.com)
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